Chamamento dos galegos aos povos da Europa:construamos em bruxelas o oceano da dignidade (e da diversidade)
(Manifesto lido hoje, dia 5 de junho, em várias cidades europeias)
Galiza, autêntica Finisterrae da Europa, é a costa do mundo mais golpeada pelas marés negras.
Os seus moradores suportamos a ameaça do tráfego constante de petroleiros obsoletos que navegam fugindo aos controlos e às inspecções. Ao mesmo tempo, sofremos a desprotecção da administração espanhola que, apesar de todos os graves acidentes, nunca chegou a preparar um verdadeiro plano de salvamento.
Após as terríveis experiências do Polycommander, do Urquiola, do Casón, do Aegean Sea... chegou o Prestige para pôr em cena literalmente a morte do mar. Um único navio que foi capaz de emporcalhar as costas de Portugal a França e que deitou todo o seu poder de destruição contra uma das últimas
praias virgens do Ocidente: a Costa da Morte.
Perante esta hecatombe anunciada a sociedade galega disse Nunca Mais!,
e mobilizou-se de uma forma extraordinária.
Vários meses volvidos o problema continua sem solução: o navio permanece afundado, a derramar
fuel-óleo. As costas e nomeadamente os fundos da plataforma continental
continuam totalmente poluídos.
E nenhum representante da administração assumiu a sua responsabilidade pela tragédia.
Portanto, é fundamental que também em Bruxelas se oiça o grito dos habitantes do fim do mundo: Nunca Mais!.
Em muitos cantos da Europa lateja a mesma ameaça. Nas nossas
mobilizações temos recebido o apoio solidário de pessoas de outros locais golpeados pelas marés negras: desde a Plataforma do Erika, na Bretanha, até aos cidadãos de Ancona, na Itália.
Sabemos que o único antídoto contra o poder omnímodo do petróleo está nas próprias pessoas, na união dos povos de toda a costa da Europa que, por enquanto, sofremos, sozinhos, a desgraça da poluição dos hidrocarburos. A luta contra o fuel-óleo não termina na limpeza de uma rochas e dos fundos
marinhos.
A hecatombe do Prestige torna evidente o fracasso definitivo de um sistema em que o petróleo interessa mais do que os individuos, do que os povos e os estados, do que o próprio cosmos.
Cabe a nós, galegos, como grandes protagonistas na tragédia, pôr em
causa esta ordem de coisas, e converter-nos ainda em embaixadores da
dignidade do oceano. É por isso que, da Finisterrae, lançamos este grito. Queremos que esta mensagem chegue a todos os lugares. Queremos impulsionar uma grande maré. Queremos que cada pessoa, cada cultura seja uma gota de vida. E queremos, no dia 14 de Junho, alagar Bruxelas para construirmos juntos o grande oceano da diversidade.
Esta é a aliança do mar, e eis-nos a nós, gentes do litoral, aqui, para inventar o futuro: Nunca Mais!
(Está a subir a maré, a da dignidade; tu não fiques varado em seco.)
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