Nunca conheci um monarquista convencido. Nunca vi um ao vivo, face a face, apenas as suas imagens virtuais na televisão. Devo então acreditar que existem. Parece que por causa do enlace matrimonial do herdeiro da coroa espanhola com uma jornalista oficial (governamental), os monarquistas de toda a vida tiveram seu espaço na mídia, pontificando sobre o absurdo sangüíneo que ia ser consumado com o acesso de uma plebéia ao trono da Espanha. Desconfio que a missão transcendental dessas vozes do além seja precisamente fazer-nos acreditar que a atual monarquia espanhola não tem nada de disparatado, que é uma instituição aberta à sociedade, quase democrática. Se comparada com os autênticos monarquistas de toda a vida, esses indivíduos tão engraçados no seu alucinado anacronismo, até a figura do rei parece razoável, porque o rei, na realidade,
não é tão monárquico assim. Mas nem a simpatia televisiva do rei pode ocultar que a instituição que representa, constitucionalmente constituída em chefia do Estado, é hereditária, transmite-se pelo sangue, como certos vírus, e depende inteiramente da conservação da linhagem. Desde essa perspectiva o único que se pode pedir de uma rainha é que seja boa parideira.
Vendo na internet a informação gerada pela notícia do enlace, fiquei pensando no último magnífico filme de Aristarain,
Lugares Comunes. O personagem de Federico Luppi, meu herói cinematográfico (fodam-se os xuadsenagers, os tomcrus, os kiaunurivs e outros de igual ou parecida ralé), reconhecia que nestes conturbados tempos se faz necessário reivindicar de novo o óbvio, os três princípios da revolução francesa que deram passo à modernidade: Liberté, Egalité, Fraternité.
É por isso que desde que li a notícia me ardem os dedos com o premente desejo de escrever bem claro algo evidente e simples, ressuscitando depois de meses este blog inconstante:
A modernização da monarquia tem apenas um nome: REPÚBLICA
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